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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A Educação no Pensamento Sociológico


Considerações iniciais
A educação pode ser analisada sob diversas perspectivas, desde a sua génese até à contemporaneidade. Todavia, por se tratar de um valor social, é importante analisar a sua evolução diacrónica sob ponto de vista dos teóricos clássicos. Assim, com o presente trabalho pretende-se apresentar, de forma resumida, a concepção da educação na perspectiva de Karl Marx, Émile Durkhein, Max Weber e Peirre Bourdieu. Sabe-se que cada teórico concebe a educação em função da sua visão filosófica da sociedade, pelo que, a descrição das convergências e divergências entres estes estudiosos é também pertinente.


A educação na visão de Karl Marx
Karl Marx (1818-1883) é defensor da sociologia materialista, histórica e dialéctica que é a sociologia da luta de classes, a sociologia das relações de poder no seio das sociedades capitalistas, do estruturalismo sócio-económico-político. A concepção marxista de educação tem também por base o materialismo histórico, e tem a educação como forma de socialização, de integração dos indivíduos numa sociedade sem classes. No modelo marxista a escola faz parte da super-estrutura e a educação é assumidamente um elemento de manutenção da hierarquia social, de controlo das classes dominantes sobre as classes dominadas.
Karl Marx é proponente de um modelo de educação igualitário, para todos os indivíduo e defende que uma educação pública e gratuita de todas as crianças. A educação, reivindicada como direito pela classe operária, institucionaliza-se como paradigma social, compreendendo três componentes distintas: educação intelectual; educação corporal e a educação tecnológica;
Para Marx, o trabalho é um princípio educativo, visto que o homem total se constitui a partir da articulação ensino-trabalho desde a infância, a partir de uma preparação politécnica para desenvolver o maior número possível de ocupações. Assim, a educação tem por missão a emancipação do homem, a sua libertação que levará à construção de uma nova ordem social. A formação/instrução do proletariado é a porta para o conhecimento, mas também a porta para a transformação da sociedade.

A educação na concepção de Émile Durkheim
Émile Durkheim (1858-1917) é mentor da sociologia estruturalista/funcionalista/ sistémica, ou seja, a sociologia da objectivação do social, da coisificação das relações sociais. É o primeiro autor clássico a afirmar a educação como processo ou fenómeno social, passível de ser descrito, analisado e explicado sociologicamente, ou seja, a educação é um bem social. Assim, a sociedade condiciona o sistema de educação, pois, todo o sistema de educação responde a exigências sociais, mas também tem por função perpetuar os valores da colectividade.
A semelhança de Marx, o modelo educacional de Durkhein assenta na ideia de uma escolarização pública e laica. Segundo este autor, a educação contribui para a coesão social, através da inculcação moral e da qualificação e redistribuição dos indivíduos pela estrutura social. A proposta educativa de Durkheim assenta na socialização progressiva das novas gerações como meio de preservar a ordem social. Portanto, a educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio ao qual se destina particularmente. Durkheim distingue educação (matéria da pedagogia) da pedagogia (a reflexão sobre factos da educação).

A educação na esteira de Max Weber
Max Weber (1864-1920) é teórico da sociologia accionalista/compreensiva/ interpretativa/explicativa, ou seja, a sociologia da acção social dotada de sentido e de significado subjectivo. A educação, modo de preparação dos homens para a vida social, é para Weber um mecanismo que contribui para a manutenção de uma situação de dominação de um grupo em relação a outro. É factor de estratificação social. A escola é palco de relações de poder e de dominação. Diferentemente de Marx e Durkhein, a proposta weberiana assenta em três tipos de educação: a carismática, a humanista e a racional-burocrática. Com efeito, os dois polos opostos no campo das finalidades educacionais são: despertar o carisma e transmitir o conhecimento especializado.
Os três tipos de dominação correspondem aos três tipos de educação: a dominação carismática corresponde à educação de carisma, sendo identificada com a antiguidade; a dominação tradicional prende-se com a educação humanista, sendo característica do patriarcalismo; a dominação racional relaciona-se com uma educação racional burocrática (do especialista) e encontra-se subjacente ao capitalismo. Numa sociedade capitalista-racional burocrática, os indivíduos distinguem-se pelas suas qualificações. Nesta vertente, a educação é o elemento que contribui para a selecção social, é um dos recursos possíveis para se manter ou melhorar o status e quanto mais reduzido for o grupo, maior o prestígio social dos seus membros.

Educação na perspectiva de Pierre Bourdieu
A sociologia de Bourdieu liga-se à superação de um dilema clássico do pensamento sociológico da oposição entre subjetivismo e objectivismo. Bourdieu teve o mérito de formular uma resposta que se tornou um marco na história do pensamento e da prática educacional em todo o mundo, abrangente e bem fundamentada, teórica e empiricamente, para o problema das desigualdades escolares.
A educação, na teoria de Bourdieu, perde o papel de instância transformadora e democratizadora das sociedades e passa a ser vista como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais.
O (in)sucesso alcançado pelos alunos na escola não é explicado por seus dons pessoais (biopsicológicos) mas por sua origem social, que os colocaria em condições mais ou menos favoráveis para aprendizagem. Deste modo, o capital cultural constitui o elemento da bagagem familiar que teria o maior impacto na definição do destino escolar. A educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante, ou mesmo ameaçador. Bourdieu (1998) observa que o grau de investimento na carreira escolar está relacionado ao retorno provável, intuitivamente estimado, que se pode obter com o título escolar. Para tanto, o grupo pobre em capital económico e cultural tenderia a investir de modo moderado no sistema de ensino. As classes médias tenderiam a investir pesada e sistematicamente na escolarização dos filhos. As elites económicas e culturais investiriam pesadamente na escola, porém, de uma forma bem mais descontraída.
Bourdieu observa que a legitimidade da instituição escolar e da acção pedagógica que nela se exerce, só pode ser garantida na medida em que o caráter arbitrário e socialmente imposto da cultura escolar é dissimulado, o que cria uma violência simbólica, passando a escola exercer, livre de qualquer suspeita, suas funções de reprodução e legitimação das desigualdades sociais. Contudo, surgiram críticas a Bourdieu que realçam o facto de que o habitus de uma família e, mais ainda, de um indivíduo não pode ser deduzido directamente do que seria seu habitus de classe. As famílias e os indivíduos não se reduzem à sua posição de classe.


À guisa de conclusão
Em Marx a educação pode oprimir ou emancipar o indivíduo, todavia em Durkheim, a educação é o mecanismo pelo qual ele se torna membro de uma sociedade. Numa abordagem diferente, Weber considera que a educação é factor de selecção e de estratificação sociais. Marx e Durkheim centraram-se no poder das forças externas ao indivíduo enquanto Weber centrou-se na capacidade de acção do indivíduo sobre o exterior. Já Bourdieu verifica que as diferenças culturais entre os alunos das diversas classes sociais seriam menos evidentes nos ramos mais elevados do sistema de ensino.

2 comentários:

  1. Realmente! Abstive-me de assumir um posicionamento. Apenas quis compartilhar o pensamento destes GRANDES da Sociologia da Educação. Este pensamento eh que me guia em tudo que reflicto com relação a educação.

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