As
provas de escolha múltipla são o modelo de avaliação escrita adoptado pelo
Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano para aferir o grau de
assimilação da matéria por parte dos alunos, no fim de uma unidade didáctica
(AS) e/ ou de um trimestre (APT). Trata-se de uma modalidade de avaliação que
não colhe consenso a nível dos professores, uma vez que alguns a consideram
mais objectiva e que facilita o processo de correcção e reduz a arbitrariedade
na atribuição da nota ao aluno por parte do professor.
Como
educadores, julgamos importante contribuir para uma reflexão mais aprofundada
sobre este assunto. Como professore de língua, a nosso ver, este modelo não é
adequado para as línguas, visto que não permite aferir o grau de assimilação
das matérias e consequente desenvolvimento das competências linguísticas
necessárias. Assim, comecemos por discutir o conceito de avaliação.
A avaliação da aprendizagem
O
conceito “avaliação da aprendizagem” na arena educativa surge no século XX,
década de 30, introduzido pelo educador norte-americano, Ralph Tyler, ao se
mostrar preocupado com a questão da eficiência da educação que tornava a
avaliação baseada unicamente em provas e exames. Tyler introduz o novo
conceito, recomendando a necessidade de se
cotejar cada instrumento de avaliação que
for proposto com os objectivos que se têm em mira e ver se aquele utiliza
situações capazes de evocar a espécie de comportamento que se deseja como
objectivo educacional, (TYLER, 1981:166). Com efeito, a contribuição
tyleriana espevitou vários educadores que, posteriormente, trouxeram suas
reflexões sobre a avaliação, concebendo-a como uma prática dinâmica onde o
professor e os alunos assumem o seu papel, de modo co-participativo, através da
implementação do diálogo e da interacção respeitosa, comprometendo-se com a
construção do conhecimento, (SORDI, 1995) e, ainda como um conjunto de acções
provocativas do professor que desafiam o aluno a reflectir sobre as experiências
vividas, a formular e reformular hipóteses, direccionando para um saber
enriquecido, (HOFFMANN, 1993).
A
avaliação, no seu quadro teórico, é um processo de negociação entre o professor
e aluno na construção e aprimoramento do saber e, ancorados na teoria
luckesiana, podemos afirmar que a avaliação é um acto não impositivo, mas sim um acto dialógico, amoroso e
construtivo, (LUCKESI, 2000:08).
A
avaliação deve ser analisada e concebida em função de várias abordagens que se
relacionam estritamente com as finalidades do processo, com efeito, julgamos
prudente discutir as diversas abordagens da avaliação passíveis de se realizar
na sala de aulas. A avaliação pode tomar várias formas ou funções, que
designaremos de abordagem, neste artigo, nomeadamente: abordagem diagnóstica, abordagem sumativa e a abordagem formativa.
·
A avaliação
diagnóstica é realizada no início de um curso, período
lectivo ou unidade de ensino, com a intenção de constatar se os alunos
apresentam ou não o domínio dos pré–requisitos necessários e imprescindíveis
para as novas aprendizagens. É também utilizada para caracterizar eventuais
problemas de aprendizagem e identificar suas possíveis causas, numa tentativa
de saná-los, (HAYDT, 1988:16). Portanto, cabe ao educador, no início de cada
unidade didáctica ou ano lectivo, procurar respostas das questões tais como: Quem
são os meus alunos? Que conhecimentos possuem? Que limitações apresentam? Que
necessidades têm? Em função das respostas, o professor reflectirá sobre
que conteúdos a leccionar e que procedimentos a seguir;
·
A
avaliação formativa
acontece durante o processo de ensino, com a função de repensar o ensino,
pensar em outra proposta para o aluno aprender. É principalmente através da avaliação formativa que o aluno conhece
seus erros e acertos e encontra estímulo para um estudo sistemático,
(HAYDT, 1988:17). Entre suas principais funções estão, as de tranquilizar,
apoiar, orientar, reforçar, corrigir, etc., é uma avaliação incorporada no acto
do ensino e integrada na acção de formação, (RABELO, 1998:73).
· A
avaliação sumativa, com função classificatória, realiza-se ao
final de um curso, período lectivo ou unidade de ensino, e consiste em
classificar os alunos de acordo com níveis de aproveitamento previamente
estabelecidos, geralmente tendo em vista sua promoção de uma série para outra,
ou de um grau para outro, (HAYDT, 1988:18). Esta modalidade avaliativa é, na
esteira de LUCKESI (2011), avaliação de certificação,
na qual se avalia um objecto já configurado e concluído, inserindo-se na qualificação
do objecto.
É
nesta última abordagem de avaliação em que se enquadra o modelo de escolha
múltipla.
Provas de escolha múltipla
As provas de escolha múltipla são avaliações formadas
por vários tipos, nomeadamente, perguntas de escolha múltipla com 3 a 5 opções,
às vezes mais; perguntas de escolha múltipla emparelhada; perguntas de escolha
dupla verdadeiro-falso; perguntas de completação de palavras (PINTO, 2001). Para
CNECE (2008:10) uma pergunta de escolha múltipla é uma afirmação incompleta
seguida por uma lista de respostas possíveis de entre as quais o estudante tem
de escolher uma.
As
provas aplicadas no II Ciclo do Ensino Secundário Geral em Moçambique adoptam o
formato de perguntas de escolha múltipla com quatro opções constituídas por um enunciado,
normalmente em forma de pergunta, seguido por quatro alternativas,
assinaladas pelas letras A, B, C, e D, uma em cada linha numa distribuição
vertical. Uma das alternativas é correcta, que deve ser identificada e
assinalada pelo aluno, e as restantes alternativas são falsas e designam-se por
distractores, na medida em que distraem o estudante, afastando-o da
resposta correcta.
Trata-se
de uma modalidade de avaliação sumativa adoptada pelo Ministério de Educação e
Desenvolvimento Humano, através do Manual
de Testes de Escolhas Múltiplas e Exercícios elaborado pelo CNECE
(2008), sendo que as escolas abrangidas ao nível nacional passaram a
implementar esta recomendação do MEC no processo avaliativo com o propósito de melhorar a qualidade de ensino
através de adopção de estratégias de avaliação objectiva. Obviamente, as provas
de escolha múltiplas são mais objectivas. Entretanto, a sua objectividade reside
apenas no acto de correcção, entretanto, acarretam vários prejuízos se
analisarmos a avaliação das aprendizagens como um processo e não um fim, ao
invés das provas formadas por perguntas de desenvolvimento que são constituídas
por um enunciado, sob a forma de pergunta ou afirmação, onde o aluno é
solicitado a responder por escrito evocando conhecimentos, e procedendo em
maior ou menor grau a uma análise, descrição, explicação, comentário e síntese
de um conteúdo, tópico ou área do saber escolar.
Primeiro, o processo de elaboração de provas de
escolha múltipla é longo, laborioso, requer conhecimentos, experiência,
bastante imaginação, revisões frequentes e o parecer e ajuda de colegas da
mesma área de especialidade (PINTO, 2001). Uma pergunta de escolha múltipla
considerada muito boa e imaginativa por um professor, pode-se revelar
deficiente, quando submetida à apreciação de um colega, devido a ambiguidades e
presença implícita de pistas orientadoras.
Segundo, BLOOM et
al (1956) sugeriu seis níveis de avaliação de conteúdos escolares a nível
cognitivo que poderiam ser representativos de processos de pensamento mais
elevados:
· Conhecimento – recordação e evocação de informação previamente aprendida em termos de
factos, conceitos, princípios, teorias e procedimentos;
· Compreensão –
capacidade para captar o significado da informação e saber interpretá-la e
traduzi-la em várias modalidades;
· Aplicação –
capacidade para usar a informação escolar num novo contexto, empregando
conceitos e princípios em situações novas;
· Análise –
capacidade para dividir a informação complexa nas suas partes, analisar a relação
entre as partes e o modo como formam um todo, assim como os princípios
envolvidos ou erros subjacentes;
· Síntese –
capacidade para formar e criar uma estrutura nova ou um todo a partir dos elementos
constitutivos;
· Avaliação –
capacidade para avaliar e julgar a informação e os acontecimentos em relação a
uma norma.
Esta classificação dos objectivos (“taxionomia”
segundo BLOMM, 1956) remete-nos a uma profunda reflexão, uma vez que, os
primeiros quatro objectivos de natureza cognitiva só se podem alcançar
facilmente através de perguntas de escolha múltipla no formato Verdadeiro/
Falso ou emparelhamento. O alcance dos dois últimos passa necessariamente pela
aplicação obrigatória de perguntas de desenvolvimento (GRONLUND,1988).
Outrossim, a escolha da resposta correcta neste modelo de perguntas não se
baseia necessariamente no raciocínio, uma vez que se desconhecem os processos
mentais envolvidos na escolha da resposta apontada pelo aluno.
O modelo de perguntas de escolha múltipla enquadra-se
perfeitamente na perspectiva behaviorista da aprendizagem, uma vez que esta
teoria preocupa-se mais com o comportamento observável, que no caso vertente se
manifestará através do “bom desempenho” na prova, relegando a expressão do
processo de operações pensamento.
Terceiro, tomando em consideração as habilidades que
se pretendem desenvolver com o ensino de línguas, nomeadamente oralidade,
leitura, gramática e escrita, o prova de escolha múltipla facilita a avaliação
da componente leitura (no sentido de interpretação e compreensão textual) bem
como a gramática (do ponto de vista de identificação de frases (a)gramaticais)
em que o aluno poderá recorrer à memória e pela experiência de ter lidado com
frases idênticas em outras avaliações. Todavia, as perguntas de escolha
múltipla não permitem aferir o nível de conhecimento sobre o domínio da escrita
e da oralidade, e muito menos funcionam como mecanismos de verificação do
desenvolvimentos de competências linguísticas que permitam ao aluno (i) usar a
língua de forma interactiva, isto é, saber utilizar a língua, os símbolos e
textos em várias situações da vida de modo a ter uma participação activa e
reflexiva em contextos múltiplos; (ii)comunicar-se com os outros, oralmente e
por escrito, em vários contextos relevantes da vida, tais como a família,
escola, comunidade e emprego; (ii) produzir textos orais e escritos de natureza
diversa de forma lógica, estruturada, criativa e espontânea.
Diante destes pressupostos, julgamos inapropriadas as
provas de escolha múltipla como modelo de avaliação escrita no Ensino
Secundário Geral do II Ciclo.
Referências bibliográficas
CNECE. Testes
de Escolhas Múltiplas Manual e Exercícios. Maputo, Alpha Plus, 2008.
COMENIUS, J. A.. Didáctica
Magna. São Paulo,
Martin Fontes, 2002.
Gronlund, N. E.. How
to construct achievement tests. 4ª Ed., Englewood Cliffs, NJ, Prentice-Hall, 1988.
HAYDT, R. C. C.. Avaliação
do processo ensino-aprendizagem. São Paulo, Ática, 1988.
HOFFMANN, J.. Avaliação
Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à Universidade.
8ª. Ed., Porto Alegre, Mediação, 1996.
LUCKESI, C. C.. O Que é Mesmo o Acto de Avaliar a
Aprendizagem?. Rio Grande do Sul, Pátio,
2000.
PERRENOUD, P.. Avaliação: da Excelência à Regulação das
Aprendizagens. Porto Alegre, Artmed, 1999.
PINTO, A. C. Factores relevantes na avaliação escolar por
perguntas de escolha múltipla. FCPE, Porto, 2001.
RABELO, E. H.. Avaliação: novos tempos e novas práticas. Petrópolis, RJ: Vozes,
1998.
TYLER, R.. Princípios
Básicos de Currículo e Ensino. Porto Alegre, Globo, 1981.
A sua conclusão foram minhas palavras quando meu colega de Física disse, ontem, que era rápido nas correções porque seus testes são de múltipla escolha. Na verdade, no ensino de línguas, há que sempre capitalizar de forma harmoniosa as habilidades de leitura, escrita, oralidade e gramática sendo assim impossível hospeda - los em uma avaliação do tipo "sistematica" se na verdade for de acompanhamento. Concordo em pleno.
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